Citarei três histórias, e depois falarei a respeito.
“Muitas vezes eu saí
de casa armada até os dentes, com todos os argumentos possíveis sobre todos os
momentos ruins que já passamos juntos. Por tudo de ruim que ele me fez passar.
Mas às vezes eu nem chegava a terminar. Na maioria das vezes, eu saía da sua
casa pedindo pra ele voltar comigo...”.
“Nossa, meu último
relacionamento foi tenso. Namorei por cinco anos com meu primeiro namorado, mas
não compreendia como eu consegui ficar tanto tempo neste relacionamento. Ele
nunca foi bom pra mim. Nunca me tratou bem ou com carinho. Não que eu fosse uma
santa, mas era tão insegura que também aprontava às vezes, já que essa
insegurança não permitia que eu criasse raízes na relação. Vivia em pé de
guerra. Sempre terminava e voltava, mas sempre sentia algo doentio. Algo que me
fazia voltar com ele. Que fazia eu sentir falta dele. Uma vez na tentativa de
terminar, declarei tê-lo traído. Mas mesmo assim ele queria ficar comigo. Mas
ele mentia o tempo todo, dizia que queria ficar comigo. Eu só consegui por um
ponto final nessa história quando o peguei com outra após ouvi-lo pedir pra
voltar dizendo que não tinha ninguém.”
“Meu pai bateu muito
em meus irmãos quando éramos crianças. Eu não me lembro de ter apanhado dele.
Creio que não apanhei mesmo, pois meu respeito (diga-se de passagem: medo) era
tamanho à necessidade de fazer tudo certinho. Uma vez ouviu de longe alguém
reclamar, melhor dizendo lamuriar, o porquê de a carne moída ter sido misturada
ao repolho. Ao chegar na cozinha, perguntou quem havia dito tal coisa. Minha
mãe, por puro “respeito”, me entregou aos prantos. Nessa, eu fui obrigada a
comer um prato cheio, mas muito cheio, só de carne moída com repolho. Meus irmãos,
faziam xixi na calça só por ouvi-lo clamar seus nomes. Meu irmão, apanhava
sempre que voltava do mercadinho, pois sempre trazia coisas erradas. Não que
ele era lesado, mas sentia tanto medo de errar que esquecia o que realmente lhe
foi solicitado e acabava trazendo outra coisa, mesmo que errada. O que eu não
entendo é porque eu o amava tanto. O porquê sentir tanto a sua falta mesmo
depois de tantos anos passados de sua morte. Chego a ter medo do vazio que eu
sinto com a sua ausência...”
Muitas vezes nos perguntamos sem encontrar a resposta,
porque nos permitimos passar por tantas situações ruins e/ou não nos libertamos
dessas amarras que possuímos com o passado.
Cada situação é mais complexa que a outra, mas a resposta é
muito simples: tudo culpa da dor e da falta de autoconhecimento.
No primeiro caso, faltou explicar o que ele fazia para que
ela, mesmo querendo terminar, continuasse com ele. Percebendo a intenção dela,
antes que ela puxasse o gatilho que anunciaria o término da relação, ele se
antecipava e anunciava o que ela tanto queria. Como nós não somos educados a
lidar com nossas frustações, sentir a dor da negação fazia com que o jogo se invertesse,
e seus planos iam por água abaixo. Durante o término de uma relação, só existe
uma pessoa capaz de impedí-lo(a) de tomar tal atitude: que é você mesmo.
Ninguém melhor que nós mesmos para ser nosso melhor amigo.
Mas ninguém pior para ser nosso pior inimigo.
Já nos outros casos, o processo é um pouco complicado.
A sociedade é recheada de vários exemplos de relacionamentos
conturbados, seja ele em família, namoro ou casamento. Quantos de nós não conhecemos
uma mulher que apanha do marido, mas que nunca consegue sair da relação?!
O problema é que esses relacionamentos são baseados na dor.
É tanto sofrimento que a dor passa a ser o combustível da relação, seja qual
ela for.
A nossa vida é moldada pelo prazer, podendo ser ele sexual,
visual, auditivo, tátil, etc. Imagine nosso corpo como uma máquina, onde o
cérebro é o centro de processamento de dados e o resto do corpo é responsável
pela capitação de estímulos. A partir do momento que algum estímulo é gerado,
automaticamente o cérebro processa esse estímulo e grosseiramente falando, ele
entende que nosso corpo foi excitado. (excitado = estímulo). Porém, as mesmas
células que recebem prazer são as que processam a dor.
Exemplificando melhor, o mesmo tapa que provoca a dor é o
que provoca prazer no sexo. De uma maneira inconsciente nós ficamos excitados
com o sofrimento, e isso causa uma dependência, porém negativa.
No segundo caso, existe um mix de prazer e dor no
relacionamento. É a famosa estória de conto de fadas onde a mocinha se apaixona
pelo bandido. Se tivermos consciência de que ele é “bandido”, por que manter-se
na relação? Alguns gostam de correr de moto ou carro, outros de pular de
paraquedas, e alguns gostam de sofrer. Não que o sofrimento seja uma escolha,
mas da mesma maneira que nos outros casos, sofrer também gera adrenalina.
Já no terceiro caso, não existe mix nenhum. É só dor.
Imaginando que nós procuramos tornar-nos pessoas melhores a cada geração,
provavelmente o que este pai conseguiu ser com os filhos foi fruto das
experiências dele. Se ele já vem melhorado, imagine só o que este indivíduo
passou quando jovem...
Como a relação deste caso é paternal, não temos como
simplesmente “terminar” com o relacionamento. O que se pode fazer é
autoconhecer-se e compreender a causa do sofrimento, e entender que este pai
deu o melhor que ele pôde.
Estou sempre frisando a importância do autoconhecimento, e
mais uma vez volto a dizer a sua importância. Mesmo que saibamos como evitar o
erro e/ou situação que nos desagrada, se não possuímos conhecimento, neste caso
o autoconhecimento, conhecimento do processo de como foi causado tal situação,
estaremos fadados a passar pela mesma situação novamente. Conhecimento liberta,
inclusive, de permanecermos no mesmo erro. A partir do momento que a ignorância
é deixada, só cabe a você permanecer no erro por livre espontânea vontade.
Você pode escolher entre ser o retrato de sua criação, ou
fruto de suas próprias experiências.